5 leituras para 5 perfis carnavalescos

06/02/2020

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Não sei se são os óculos, o caminhar que já denuncia falta de coordenação motora, os tropeços frequentes, o fato de que eu sou a pessoa que não dança nem em casamentos, mas eu não sou muito de festas. Eu literalmente não vou a um lugar onde não se possa sentar. Se me chamam para uma festa, eu questiono se vai ter onde sentar. Pode perguntar para quem quiser. Um restaurante legal, um pub, um “queijos e vinhos” em casa até altas horas bebendo e conversando? Estou dentro. O calor do Brasil com um monte de desconhecidos e música alta e sem um lugar planejado para ir ao banheiro? Não é comigo.

Eu não pulo carnaval. Quem quiser pular que pule, não tenho julgamento algum, acho uma habilidade quiçá invejável. Por outro lado, eu gosto de carnaval. Porque é um feriado longo, e posso fazer aquilo que sempre faço em feriados longos: colocar as leituras em dia.

Independentemente de você ir ao bloco, dá para colocar as leituras em dia. Algum dia, você vai ter uma ressaca. Isso não é uma maldição, mas vai acontecer. E você vai precisar ficar em casa. Algum dia, vai acabar a grana da cerveja. E então, dá para colocar umas leituras em dia. Resolvi, então, listar cinco tipos de leitura que você pode colocar em dia no carnaval. Tentei ligar a algum tipo de perfil de folião, ou tipo de leitor-folião, mas todo mundo pode ler todo mundo. É o carnaval, afinal de contas. As recomendações são carnavalescas e festivas? Não necessariamente. São lançamentos da moda? Não muito. O carnaval é mais uma desculpa para indicar livros. Este post inteiro é só uma lembrança de que festejar não é antônimo de ler. Ler é festejar.

 

5. Um quadrinhoComo falar com garotas em festas, Fábio Moon e Gabriel Bá e Neil Gaiman

Perfeito se o seu perfil carnavalesco for de beber demais até chegar ao ponto de precisar parar. Se a sua ressaca for pior que a de muitos, às vezes um quadrinho com menos texto ajuda. Não vai precisar apertar o olho com muitas letras. Vai precisar ficar de olhos bem abertos paras ilustrações de Fábio Moon? Vai. A vantagem é que vai poder passar para o original do Gaiman depois (quando a ressaca der uma baixada), e ainda ir para a adaptação cinematográfica no final. O bom é que pode até pegar no sono durante a adaptação, porque o filme não tem muito a ver com nada.

 

4. Uma biografiaSontag, Benjamin Moser

Se o seu perfil carnavalesco é mais conversar com as pessoas e fazer amigos novos no boteco, a biografia de Susan Sontag, de Benjamin Moser, é perfeita. Moser já é biógrafo da excelente biografia da Clarice Lispector, que você também pode ler. Susan Sontag foi uma das maiores ativistas, escritoras e intelectuais do século XX. A escrita faz as setecentas páginas voarem, enquanto a intimidade que sentimos com a autora faz que fiquemos vidrados. É uma biografia não só de Susan Sontag, mas de toda uma maneira de ver um período em nossa história e sociedade. Vai acabar se sentindo melhor amigo ao final da leitura.

 

3. Um livro de literatura brasileiraEm plena luz, de Tércia Montenegro

O livro de Tércia é perfeito se você foge no feriado de carnaval. Vai para uma praia no fim do mundo. Vai para as montanhas, fugir do agito, pensar em 2020, tentar se conectar consigo mesmo e com o que te rodeia. Quer pensar talvez em Paris, pensar em um radicalismo que começamos a ver nos anos 2010, quer pensar nos atentados terroristas de 2015. Quer palavras bem-pensadas e um ritmo gostoso de frase, quer imagens que te encantam. Se essa é sua definição de “festa”, Em plena luz é sua leitura de carnaval, e de Lu, uma escultora e fotógrafa que foge para a França para fugir de si mesma.

               

2. Um livro da Elvira VignaComo se estivéssemos em palimpsesto de putas

Eu amo a Elvira Vigna. Vocês deviam ler Elvira Vigna. Não sei como vocês pulam carnaval, mas leiam a Elvira Vigna. Fim do item.

 

1. Um clássico — Grande sertão: veredas, Guimarães Rosa

Talvez a sua onda carnavalesca seja trabalhar. Talvez você goste de colocar as coisas em dia, se esforçar. Talvez você esteja sem dinheiro pra grandes viagens e grandes invenções. Esse é geralmente o meu carnaval. Em geral, gosto de ler Grande sertão: veredas no natal, mas como não fiz um post de leituras natalinas, agora é o momento. Talvez o carnaval seja o momento de se desafiar, de ler um livro que você anda dizendo que vai ler desde que tinha quinze anos. O corcunda de Notre-Dame. Frankenstein. Ulysses. Você leu todos do Shakespeare? E de Jane Austen? E a Virginia Woolf, qual você jurou que não ia passar de 2019? O carnaval ainda é o último bastião de promessas de ano novo.

 

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Luisa Geisler nasceu em 1991, em Canoas, Rio Grande do Sul. É escritora e tradutora. Autora de Luzes de emergência se acenderão automaticamente (Alfagura, 2014), De espaços abandonados (Alfagura, 2018) e Enfim, capivaras (Editora Seguinte, 2019), foi duas vezes vencedoras do Prêmio Sesc de Literatura, além de finalista do Prêmio Machado de Assis, semifinalista do Prêmio Oceanos de Literatura e duas vezes finalista do Jabuti. É mestre em processo criativo pela National University of Ireland. Tem textos publicados da Argentina ao Japão (pelo Atlântico) e acha essa imagem simpática.

 

Luisa Geisler

Luisa Geisler nasceu em 1991 em Canoas, RS. Escritora e tradutora, é também mestre em processo criativo pela National University of Ireland. Pela Alfaguara, publicou Luzes de emergência se acenderão automaticamente (2014), De espaços abandonados, Enfim, capivaras (2019), além de Corpos secos, romance distópico de terror escrito a oito mãos com Natalia Borges Polesso, Marcelo Ferroni e Samir Machado de Machado. Foi vencedora do Prêmio Sesc de Literatura por duas vezes, além de finalista do Prêmio Machado de Assis, semifinalista do Prêmio Oceanos de Literatura e duas vezes finalista do Jabuti.

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