Vinte e sete verdades e três mentiras

16/05/2017

Leitores,

Sei que às vezes falamos de temas pesados no blog. Não eu, claro que não eu. Mas o Caetano Galindo fala de traduzir Thomas Pynchon e Joyce e não-sei-mais-o-quê. Tem um post sobre o que orienta nossos gostos em uma era digital. E o post de Julia de Souza sobre Hilda Hilst? As timelines estão lotadas de análises (textões) de política doméstica — ou pelo menos os memes do Temer atrás daquela moça no caixa eletrônico. E se somos ~globalizados~, não temos como evitar o novo escândalo do dia de Donald Trump.

Mas não temam mais. Resolvi salvar a todos. Resolvi retomar aquilo que dominava nossas timelines dez minutos atrás. O joguinho aquele — você sabe qual, porque você também participou. Mas não participei, não no Facebook. Eu me guardei pra vocês, leitores. De nada, leitores, de nada.

Se você não se lembra, o joguinho era postar nove verdades e uma mentira. A ideia é que a audiência descobrisse e comentasse etc. Resolvi fazer uma versão literária. Separei em três categorias: sobre a vida literária, sobre os livros já publicados e sobre o livro em progresso. Muitas das informações aqui são ou googláveis ou inclusive parte de meus posts anteriores. Se precisar, posso esclarecer tudo no post que vem, comentar os erros mais comuns, sei lá.

E, PARA COROAR, QUEM PRIMEIRO ACERTAR QUAIS SÃO AS MENTIRAS AQUI NOS COMENTÁRIOS DO BLOG GANHA LIVROS! :DDDDDDDDDD DESCULPA NÃO CONSIGO DESLIGAR O CAPS LOCK.

Perdão. Foi meu momento Oprah. Sim, dois livros pra quem acertar primeiro as três mentiras.*

Sei que é um exercício em narcisismo. Sei que estou requentando mais um meme, já meio démodé (como a palavra “démodé”). Mas já listei posts mais intelectuais. Acabei de entregar um artigo de 20 páginas sobre Ulysses e não vou usar — me recuso a usar — meu cérebro muito mais dessa vez.

Bem-vindos ao vinte e sete verdades e três mentiras.

Sobre a vida literária:

1. Mesmo com uma escrivaninha disponível e limpa, escrevo sentada na cama.

2. Adoro ler em voz alta. Sempre recebo feedback positivo de que minhas leituras são boas e ritmadas.

3. A vida literária não é glamorosa e não envolve muito dinheiro. Envolve muito mais alongamento de pulso para evitar lesões do que entrevistas ou vendas.

4. Minha parte favorita do trabalho é escrever.

5. Tento me manter longe de meus personagens ao criá-los — não por uma técnica literária, mas porque sou tímida.

6. Gosto de falar sobre feminismo e sobre mulheres na literatura. São temas que precisam ser discutidos.

7. Escrevo bastante rápido, apesar de nem sempre escrever bem. Edição e revisão são mais de 60% do meu processo.

8. Ler é uma parte importante do processo literário. Gosto muito de ser influenciada por outros autores, “roubar ideias” e adaptá-las.

9. Meu maior sonho literário é completar cinquenta anos e não precisar mais falar de minha experiência como autora jovem.

10. Quando tenho muito a escrever, faço intervalos para lavar roupa, louça ou caminhar. Atividades mundanas ajudam a respirar ideias.

Sobre os livros publicados:

1. Quando soube que Contos de Mentira tinha sido vencedor do Prêmio SESC de Literatura — e, portanto, seria publicado —, contei à minha mãe. Logo em seguida, aos pulos, liguei para uma amiga que tinha sido uma quase editora do livro. Por estar pulando, eu estava sem ar, e ela não entendeu nada.

2. Tanto Quiçá quanto Contos de Mentira passaram apenas por uma revisão ortográfica, por terem sido vencedores do Prêmio SESC de Literatura. Ou seja, a única editora foi a amiga da ligação esbaforida. Nada mais foi alterado.

3. Luzes de emergência se acenderão automaticamente foi meu livro mais pessoal, em especial por tratar de Canoas. O livro é cheio de easter eggs apenas para moradores.

4. Já tive que ler em voz alta trechos de Luzes de emergência se acenderão automaticamente que xingavam a cidade, em um microfone, em frente à biblioteca municipal, na presença de figuras políticas locais e da vice-prefeita.

5. De todas minhas coisas publicadas, minha favorita é o primeiro conto de Contos de Mentira.

6. Nunca releio o que já foi publicado, exceto se em voz alta.

7. Entre meus personagens existentes, o que mais tem inspiração em informações minhas é Dante, de Luzes de emergência se acenderão automaticamente.

8. Por morar ao lado de uma escola (em Canoas), às vezes tinha de ouvir os ensaios de uma banda marcial enquanto escrevia. Sempre me preocupo se o ritmo foi absorvido nos livros.

9. Canoas não voam, o título original de Luzes de emergência se acenderão automaticamente, foi alterado porque comecei a achar o ritmo da frase um pouco estranho. No entanto, quis manter o “ão”, e por isso as luzes de emergência se acenderão.

10. Luzes de emergência se acenderão automaticamente contém uma página inteira apenas com palavrões.

Sobre o livro em progresso (em português):

1. É meu livro que mais tomou tempo para escrever, desde 2014. A previsão é que chegue ao editor este ano.

2. Inclusive, já achei que tinha terminado o livro.

3. A protagonista se chama Olívia e vem para a Irlanda à procura da mãe, porque “ela não pôde salvá-la”. Essa ideia é uma quase-referência a Stephen Dedalus.

4. O editor do livro é Marcelo Ferroni. São Marcelo não aceita orações, apenas gifs.

5. Eu já quis que o título envolvesse velociraptors, mas ele foi vetado por amigos e profissionais do meio.

6. A temática do livro envolve dinossauros de forma denotativa e conotativa. Por isso meu desejo desse título.

7. O título original era Haikyo.

8. Depois de dramas pessoais, o livro será uma duologia com o Projeto Em Inglês Sem Título (minha tese de mestrado). Duologia é uma palavra.

9. O livro também tem um peso familiar grande para mim, visto que meu irmão morou na Irlanda e agora eu estou aqui.

10. O livro contém eu, Luisa Geisler, como personagem, fazendo participações especiais.

* * *

*A pessoa que comentar primeiro neste post acertando quais são as três mentiras ganhará um exemplar de Luzes de emergência se acenderão automaticamente e mais um livro do catálogo do Grupo Companhia das Letras. O ganhador será contatado por e-mail. 

* * * * *

Luisa Geisler nasceu em Canoas (RS) em 1991. Publicou Contos de mentira (finalista do Jabuti, vencedor do Prêmio SESC de Literatura), Quiçá (finalista do Prêmio Jabuti, do Prêmio São Paulo de Literatura e do Prêmio Machado de Assis, vencedor do Prêmio SESC de Literatura). Seu último livro, Luzes de emergência se acenderão automaticamente, foi publicado pela Alfaguara em 2014. Tem textos publicados da Argentina ao Japão (pelo Atlântico) e acha essa imagem simpática.

 

Luisa Geisler

Luisa Geisler nasceu em 1991 em Canoas, RS. Escritora e tradutora, é também mestre em processo criativo pela National University of Ireland. Pela Alfaguara, publicou Luzes de emergência se acenderão automaticamente (2014), De espaços abandonados, Enfim, capivaras (2019), além de Corpos secos, romance distópico de terror escrito a oito mãos com Natalia Borges Polesso, Marcelo Ferroni e Samir Machado de Machado. Foi vencedora do Prêmio Sesc de Literatura por duas vezes, além de finalista do Prêmio Machado de Assis, semifinalista do Prêmio Oceanos de Literatura e duas vezes finalista do Jabuti.

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