20 perguntas para Ian McEwan

05/01/2017

Foto: AP Photo/Joel Ryan

No dia 3 de janeiro, o The Times Literary Supplement publicou uma entrevista com Ian McEwan sobre o futuro do livro e suas preferências literárias. A entrevista faz parte de uma série de conversas com escritores e pensadores em que revelam os livros que mais admiram, eventuais talentos ocultos e arrependimentos que incomodam. Confira a seguir a tradução desta entrevista com o autor de Enclausurado

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Há algum livro escrito por outro autor que você gostaria de ter escrito?

Ficaria com A morte em Veneza, do Thomas Mann. Tão magnífico, tão vívido e tão enxuto.

Como estará a sua profissão daqui a 20 anos?

Teremos muitas graphic novels. Os leitores de e-book não terão dominado o mundo. O livro vai continuar. A ficção literária resistirá como um nicho. Todos continuarão a dizer: “Não vivemos num bom momento para publicar” e “Que vergonha termos permitido que os americanos concorressem ao Booker Prize” e também “Os jovens não têm capacidade de concentração para ler romances”. Surgirão algumas pessoas brilhantes, que estão atualmente iniciando o ensino fundamental, para deslumbrar o mundo com um romance sobre androides e por que eles devem ter proteção legal e todos os direitos humanos garantidos.

Qual entre seus contemporâneos ainda será lido daqui a 100 anos?

Philip Roth. Os leitores aprenderão com ele tudo o que precisam saber sobre a angústia do século XX. Suas obras-primas cômicas, especialmente O complexo de Portnoy, vão se manter engraçadas ainda. Se tudo acabar dando errado, os tipos humanos do século XXII ficarão fascinados com o relato de Roth sobre o fascismo americano.

Qual autor(a) ou livro é na sua opinião o mais subestimado? E por quê?

Tony & Susan, de Austin Wright. Uma obra artística formidável, escrever um suspense fascinante sobre o ato de ler um romance. Provavelmente, o terrível título escolhido por Wright afastou os leitores. É possível que o filme, Animais noturnos, atraia a atenção de mais leitores. Mas a obra-prima é o livro.

Qual autor(a) ou livro é na sua opinião o mais superestimado? E por quê?

O coração da matéria, de Graham Greene. Uma péssima ideia permitir que Deus tenha o controle da trama.

Se pudesse escolher ser um escritor em qualquer época e lugar, quando e onde seria?

Do final do século XVII, em Londres. Ter a chance de dar um gole de café com os heróis do Iluminismo inglês: Newton, Flamsteed, Boyle, Hooke, entre outros. E possivelmente esbarrar com Pepys na Royal Society.

Se pudesse modificar algo que tenha escrito nesses anos, o que mudaria?

Do meu primeiro livro, Primeiro amor, últimos ritos. Removeria todas as vírgulas pretensiosas que fazem o papel do ponto final e as substituiria por pontos finais. Incluiria também uma estruturação de parágrafos mais clara.

Qual a personagem ficcional de que menos gosta?

Emma Bovary – não tanto pelo o que ela foi ou por algo que tenha feito, coitada, mas por todo o sadismo narrativo imposto por seu criador, por todo o sofrimento e pela via-crúcis que ela teve que enfrentar por quebrar as regras.

Qual o livro mais famoso que você nunca leu?/ A peça teatral que nunca viu?/ O álbum que nunca ouviu?/ E o filme que nunca assistiu?

Daniel Deronda/Péricles, Príncipe de Tiro/qualquer coisa do Bee Gees/toda a série do Star Wars, O senhor dos anéis, Hobbits, Harrys Potters e Guerra dos tronos.

Você possui talentos ocultos?

Não cozinho mal, às vezes.

 

Rapidinhas:

George ou T. S.?

T. S.

Modernismo ou pós-modernismo?

Modernismo

Jane Austen ou Charlotte Brontë?

Austen

Camus ou Sartre?

Camus

Proust ou Joyce?

Joyce

Knausgaard ou Ferrante?

Knausgaard

Jacques Derrida ou Judith Butler?

Butler

Hamlet ou Sonho de uma noite de verão?

Hamlet

Bram Stoker ou Mary Shelley?

Shelley

Tracey Emin ou Jeff Koons?

Koons

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Enclausurado, romance mais recente de Ian McEwan, já está em todas as livrarias. 

Tradução: Felipe Maciel

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