A Liga

24/06/2016

Por Claudia Rosenberg Aratangy

Liga das universidades 1

Encontro da Liga das faculdades Leitoras.

É uma Liga, mas não é a da Justiça. É formada por heróis com superpoderes? Não, mas tem encantamento e magia, emoção e aventuras.

Um grupo de cinco faculdades - Faculdades Campos Salles, Faculdade de Ciências Contábeis e de Administração de Empresas (FACCAT), Instituto Singularidades, Faculdades Sumaré e Universidade Cruzeiro do Sul (UnicSul) – montou, cada qual no seu campus, um Clube de Leitura em parceria com a Companhia das Letras. Este grupo é chamado de Liga das Faculdades Leitoras. Cada Clube, formado por alunos de Pedagogia ou de Licenciaturas (portanto, futuros professores), é mediado por uma professora amante da literatura. Na companhia de livros cuidadosamente selecionados, os Clubes tiveram, desde setembro passado, seis encontros, nos quais cada um dos seis livros foram lidos.

A curadoria foi feita por Luci Ana Santos da Cunha, da Campos Salles; Luciana Ferreira Leal, da FACCAT; Alcione Muterle, do Singularidades; Maria Elena Roman, da Sumaré; Silvia Valéria Vieira, da UnicSul; Rafaela Deiab e Janine Durand, da Companhia das Letras e Claudia Aratangy e Luciana Gerbovic, da Literária Consultoria. Foram escolhidos títulos de gêneros variados, diferentes nacionalidades e categorias (humor, drama, aventura, romance). Os escolhidos foram:

- As avós, de Doris Lessing;

- Persépolis, de Marjani Sartrapi;

- Eles eram muito cavalos, de Luiz Ruffato;

- A vida do livreiro A. J. Fikry, de Gabrielle Zevin;

- Três vezes ao amanhecer, de Alessandro Baricco e

- Festa no covil, de Juan Pablo Villalobos.

Os participantes da Liga puderam ler os seis títulos, pagando apenas por um , uma vez que os custos foram divididos entre todos igualmente e os livros rodiziaram entre as faculdades.

A experiência foi marcante e transformadora. Aleni dos Santos Pereira, participante do Clube de Leitura da Sumaré, relata como o Clube mudou sua forma de encarar a leitura: "Eu gostava só de romance. Mas eu tive uma outra visão, quando começou o Clube. Ler um livro e ter a possibilidade de ver a minha visão e a visão das outras pessoas é muito gratificante”.

No sábado, dia 4 de junho, para encerrar o primeiro ciclo de leituras da Liga, todos os participantes foram convidados a participar de um evento especial no auditório das Faculdades Sumaré.

Na abertura, além das boas vindas do diretor da Sumaré, Ramón Vilarinho, e da mediadora, Maria Elena Ramón, anfitriões do evento, os participantes e representantes de cada faculdade deram seu depoimento.

Aline, da Faculdades Sumaré, ressaltou como a discussão coletiva mudava sua impressão sobre a leitura feita: "Esses momentos de conversas sobre o livro lido eram realmente sensacionais, pois até os livros que eu afirmava não ter gostado, sentia vontade de ler novamente e acabava concluindo que havia gostado da leitura".

Adriana, da FACCAT, destacou o quanto tem sido gratificante ler e comentar as leituras com amigos e familiares. Adriana Calabró, do Singularidades, definiu a literatura como um grande exercício de empatia: “Quando o autor escreve, ele entra no mundo dos personagens e no mundo dos leitores; depois, é o leitor que entra no mundo do autor e no dos personagens, e com eles vibra, se emociona... E o Clube de Leitura nos dá mais uma oportunidade de empatia, pois cada um entra no universo da leitura do outro”. Marina Moreira Santos, da Campos Salles, destacou que “foi um desafio, mas as leituras nos encantaram. Além disso, a gente não ensina o que não sabe, então você só pode ensinar os seus alunos a gostar da leitura se você for capaz de ler, de gostar e se encantar”. Para Giovanna Held, das Artes Visuais, integrante da UnicSul, o Clube, além de permitir uma “fuga” das tradicionais leituras de estudo da faculdade, permitiu a “experiência de compartilhar os diferentes pontos de vista que cada um tinha de cada livro, foi muito prazeroso pra todos nós”.

Na sequência, houve uma conversa por Skype com Juan Pablo Villalobos, que começou falando sobre o processo de escrita de Festa no covil. Ele surpreendeu a todos ao revelar que, inicialmente, pretendia escrever uma história infantil. Os participantes perguntaram sobre detalhes do enredo, sobre as escolhas do autor relativas ao tema e sua abordagem, suas influências literárias e, por fim, sua opinião a respeito da importância da formação de leitores, não só para os professores, mas para qualquer pessoa: “Tenho certeza que, não só os professores, mas um matemático, um engenheiro, um médico, seriam melhores se tivessem um bom conhecimento da tradição literária. Porque as grandes questões da existência e as grandes questões da nossa história, os grandes desafios que temos como seres humanos, estão na nossa literatura. Tenho certeza de que esses empresários, executivos, políticos, etc., poderiam tomar decisões melhores se tivessem um bom conhecimento da nossa literatura”.

O último momento do evento foi em salas de aula, nas quais, em grupos menores, os participantes de cada faculdade puderam compartilhar uns com os outros o que foi a experiência do Clube.

Todos, sem exceção, destacaram o quanto aprenderam e se transformaram ao longo dos encontros. Alguns confessaram que sequer gostavam de ler ao ingressar no Clube, mas que isso mudou radicalmente.

A Liga continuará e com novos participantes. Muitos dos integrantes deste primeiro Ciclo estão se formando e deixarão o Clube. De qualquer forma, já não são mais imunes aos poderes de uma boa história e, como heróis e heroínas, seguirão difundindo o gosto pela leitura pelas escolas e lugares por onde passarem.

* * * * *

Claudia Rosenberg Aratangy graduou-se em Educação Física pela USP, especializou-se em Dança-educação no Goldsmiths College de Londres, fez MBA em gestão de projetos na FGV e atualmente cursa Direito no Mackenzie. Elaborou, implantou e fez a gestão de diversos programas e projetos de educação e leitura na área pública -- dentre eles Programa Ler e Escrever, o Projeto Bolsa Alfabetização e o Cultura é Currículo. Pertenceu à equipe de elaboração dos PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais), coordenou uma série de programas de TV na TV Escola, foi da equipe pedagógica da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo e também Diretora de Projetos Especiais da Fundação para o Desenvolvimento da Educação (FDE), onde implantou o Clube de Leitura do projeto Premier Skills, entre outras ações ligadas à difusão da leitura. Atualmente dá consultoria em projetos de leitura, em um projeto de investigação didática, para o Instituto Arte na Escola e também para a Comunidade Educativa CEDAC. Escreve de vez em quando no blog  Peixe grande - pequenas histórias.

Compartilhe:

Veja também

Voltar ao blog