A frustração como caminho para certa liberdade

 Por Lulli e Julia Milman, autoras de A vida com crianças

Pode parecer extremamente frustrante o que vamos dizer, principalmente porque falamos para pessoas que cuidam e educam crianças, mas aqui vai: preparem-se, pois alguma coisa sempre vai dar errado! Acreditamos que esse aviso, que vai muito além de uma profecia pessimista, seja o caminho da liberdade – dos pais e dos filhos.

Sempre que entramos em uma empreitada fazemos planos, seja na simples organização de um dia qualquer de nossa vida, em um longo projeto de carreira, ou em uma festa de aniversário. São expectativas que construímos no papel, no lápis, no orçamento, mas principalmente dentro de nós, na nossa fantasia. Com filhos, claro, não é diferente. Fazemos os planos, mas o resultado nunca é exatamente como planejamos. E, nesse caso, tanto a expectativa quanto a frustração vêm de dois polos – de nossa atuação como pais e do conjunto de ações, afetos, pensamentos que constitui nosso filho.

Impossível, sem estarmos naufragados em uma grande ilusão, acharmos que todas as nossas atitudes, os nossos pensamentos e sentimentos correspondam aos pais que sonhávamos ser. Impossível, sem atingir um grau de desonestidade acachapante, achar que “tudo que vem de” e “tudo que é” seu pimpolho sejam apenas sinais de que ele é a mais perfeita das criaturas. Não dá, não é? Então, todos os que não estão naufragados na grande ilusão e são minimamente honestos terão a difícil e desconcertante tarefa de lidar com a frustração na relação com seus filhos.

Mas o que é esse “caminho da liberdade”? É que essa frustração vem do simples fato intransponível, maravilhoso, de que o filho é único, particular, diferente de todos, até do papai e da mamãe. OK, os olhos são iguais aos do pai, o sorriso igual ao da mãe, mas o conjunto da obra é uma criação original. Sempre! E que delícia pode ser nos depararmos com aquilo que não imaginávamos!