Comunicado Zahar

03/10/2019

Depois de mais de 60 anos de uma longa e bem-sucedida trajetória independente, a Zahar passará a fazer parte do grupo Companhia das Letras. Apesar de termos conseguido nos adaptar às inúmeras crises recentes do mercado editorial, acreditamos que essa nova estrutura poderá garantir a continuidade da Zahar, preservando a qualidade do nosso trabalho e da linha editorial.

Zahar e Companhia das Letras têm uma extensa história de parceria, inclusive na distribuição comercial dos títulos de ambas as casas, e sempre partilhamos o mesmo padrão ético. Nossa escolha pelo grupo se deu pela certeza, reafirmada durante as negociações, de que o catálogo e a filosofia editorial permanecerão os mesmos que sempre nos uniram.

A partir de agora, terá início um período de transição em que a editora continuará funcionando com a estrutura atual até a integração total ao Grupo Companhia das Letras. O espírito Zahar será mantido, assim como uma colaboração editorial em áreas tradicionais da casa, a ser realizada pela atual diretora editorial Ana Cristina Zahar.

Agradecemos a todos que estiveram ao nosso lado e contribuíram com seus talentos e suas leituras para que a missão da Zahar, desde seu início em 1956, tenha sido – e acreditamos continuará sendo – a cultura a serviço do progresso social, moto escolhido por seu fundador Jorge Zahar.

Veja também texto do editor Luiz Schwarcz sobre a integração da Zahar ao Grupo Companhia das Letras:

Jorge Zahar, junto com Caio Graco Prado, foi fundamental para minha formação. Se o segundo me deu a primeira chance no mundo editorial – após eu entrar na Brasiliense como estagiário, pois precisava de seis meses de prática numa empresa para garantir o diploma –, foi Jorge quem acompanhou todo o meu amadurecimento profissional pós-Brasiliense.

Me formei em administração de empresas quase por um equívoco vocacional, já que durante meus estudos universitários acabei me dedicando muito mais às ciências sociais, imaginando que viria a seguir carreira acadêmica. No entanto, minha formação nessa área iniciou-se bem antes, com as leituras que fazia dos livros publicados principalmente pela Zahar. O equívoco acabou sendo de grande valia: aprendi as linhas mestras da vida empresarial e me dediquei a um trabalho bem mais adequado ao meu perfil do que aquele que o mundo acadêmico poderia me proporcionar.

Conheci Jorge Zahar na última feira de Frankfurt que fui representando a Brasiliense, em 1985. Caio convidara o casal Zahar para jantar, embora tenha sido de Jorge a escolha do restaurante, ao qual vou desde então, todos os anos, não só para relembrar aquele encontro que marcou a minha vida, mas também por ser o melhor da cidade – Jorge sabia das coisas do bom viver.

A partir daí – e pelos próximos dez anos, até a trágica morte de Jorge, causada pelo mesmo mal que viria a matar meu pai –, nos falamos rigorosamente ao menos uma vez por dia, sendo sempre chamado por Jorge de “meu filho”.

Logo que decidi deixar a Brasiliense, Jorge me propôs sociedade, o que quase aconteceu, mas acabou como um acordo de distribuição mútua. A também jovem Jorge Zahar Editores – terceira encarnação da casa da família Zahar – passou a distribuir os livros da Companhia das Letras no Rio de Janeiro e vice-versa, nós nos ocupamos da distribuição em São Paulo da JZE.

Acho que posso dizer que nunca aprendi tanto, não só como editor mas como ser humano, quanto nesse contato com que a vida me brindou. Além disso, passei a ter irmãos que nunca tive, pois se Jorge me tratou como filho por dez anos, a Cristina e o Jorginho preencheram essa lacuna fundamental da minha vida de filho único.

Assim, reagi com enorme emoção quando fui procurado por Crica e Mariana (a Nana) para saber se seria do nosso interesse comprar a Zahar. A partir daí todo o procedimento se deu como tinha que se dar. Agimos como irmãos tentando juntar interesses comuns.

Nos últimos tempos, embora a Companhia tenha crescido e decidido ampliar a comunidade de leitores com os quais falamos, a vocação de ser em essência uma editora de catálogo, de livros de longa duração, só foi aumentando. E é em cada um desses títulos, que querem sobreviver ao tempo, que a imagem de Jorge Zahar está espelhada e mantida. Ele foi o grande mestre desse olhar de vida longa aos livros, mestre dignamente representado por duas gerações de sua família, por Jorginho no início, e desde sempre e até agora por Cristina e Mariana.

Não tive honra maior em minha vida do que a que se realiza neste momento: a de ter sido escolhido para continuar esse legado que mudou a história do livro no Brasil. Espero sinceramente estar à altura. Axé, Jorge.

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