De Drummond para Oswald

erro de portugês

Quando o português chegou
Debaixo d'uma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena!
Fosse uma manhã de sol
O índio tinha despido
O português

 

Lançado pela primeira vez em 1945, Poesias reunidas ganha uma nova edição pela Companhia das Letras, que desde 2016 vem publicando a obra de Oswald de Andrade. Mas esta não é "só" mais uma nova edição: nas livrarias desde janeiro, o volume conta com 22 poemas inéditos daquele que, segundo Mário de Andrade, é “o mais curioso talvez dos modernistas brasileiros”. 

Marcados pelos cortes rápidos, telegráficos, os versos se apropriam das técnicas de montagem das artes plásticas e do cinema. O resultado desse processo é uma obra transgressora que influenciou profundamente não só a literatura do país, mas também as artes visuais, a filosofia, a antropologia e os estudos culturais. Poesias reunidas também conta com ilustrações originais de Tarsila do Amaral, Lasar Segall e desenhos do próprio Oswald, além de farta fortuna crítica com textos de Mário da Silva Brito, Haroldo de Campos e uma carta de Carlos Drummond de Andrade ao poeta, que publicamos a seguir.

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Carta sobre primeiro caderno do aluno de poesia Oswald de Andrade

[Belo Horizonte, 1928]

Oswald
É muito provável que V. não tenha reparado no meu silêncio sobre o Primeiro caderno de poesia. Silêncio de indivíduo pouco sério epistolarmente falando, mas que não significa nem pouco caso nem quebra daquela velha admiração bocó que eu, mesmo sem querer, dedico a V. Pelo contrário, esse Primeiro caderno me fez ficar cada vez mais incondicionalmente seu admirador. Não é para me gabar, mas eu gosto um horror de sua poesia. V. ocupa um lugar tão diferente dos outros lugares do modernismo brasileiro, que estar com V. é ter a sensação de estar sozinho. Antes só do que mal acompanhado se bem que estar mal acompanhado também é gostoso.

Não gostei por igual de seus poemas, porque de alguns eu gostei mais. A saber, “adolescência”, “velhice”, “meus sete anos”, “o filho da comadre esperança”, “poema de fraque”. Acho que V. foi o mais longe possível nesses versos. Chegou a uma simplicidade simples por demais. É verdade que se der ainda um passo à frente… cuidado! era uma vez um aluno de poesia.

Mas V. é muito esperto e não precisa que eu lhe diga essas coisas.

Comprei e não li A estrela de absinto. É horrível em 1928, e dou-lhe os meus pêsames mais sinceros.

Recomende-me a d. Tarsila, e queira bem ao seu de verdade

Carlos
Rua Silva Jardim, 117

Vai junto um poeminha para V. ler.

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No próximo dia 11 de fevereiro, em São Paulo, celebraremos o lançamento de Poesias reunidas com um evento especial. O evento, que começa às 16h no Museu Lasar Segall, conta com um painel especial com projeção das ilustrações originais do livro, Jorge Schwartz e Gênese Andrade conversam sobre a obra de Oswald de Andrade e ainda teremos leitura de trechos do livro por Arnaldo Antunes. Saiba como participar

 

 

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