Leitura de Verão: Ficção Nacional

21/12/2017

Qual vai ser a sua leitura de verão? Se você ainda está na dúvida, sugerimos alguns dos melhores lançamentos em ficção nacional de 2017 para você passar o verão em boa companhia. ?

A glória e seu cortejo de horrores, de Fernanda Torres

Depois de lançar Fim, seu primeiro romance, e Sete anos, reunião de crônicas, Fernanda Torres voltou às livrarias em 2017 com A glória e seu cortejo de horrores, em que faz um retrato marcante da televisão, do teatro e da sociedade brasileira ao acompanhar a glória e a queda de um ator. Mario Cardoso foi o galã televisivo de uma geração, mas entra em declínio quando decide encenar uma versão desastrosa de Rei Lear. Mescla eletrizante de comédia de erros com a velha e nem sempre boa vida como ela é, o livro atravessa diversas fases da carreira de Mario (e da história recente do Brasil), suas lembranças de juventude no teatro político, a incursão pelo Cinema Novo dos anos 1960, a efervescência hippie do Verão do Desbunde, o encontro com o teatro de Tchékhov, a glória como um dos atores mais famosos de uma época em que a televisão dava as cartas no país. Um painel corrosivo de uma geração que viu sua ideia de arte sucumbir ao mercado, à superficialidade do mundo hiperconectado e à derrocada de suas ilusões. Se você ainda não se convenceu da leitura, veja as leituras que Fernanda Torres, Fernanda Montenegro, Antonio Fagundes e Zé Celso fizeram no evento de lançamento

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Não está mais aqui quem falou, de Noemi Jaffe

Noemi Jaffe é uma das escritoras mais originais da literatura brasileira contemporânea, e a prova disso está em Não está mais aqui quem falou, seu livro mais recente. Os fragmentos que compõem o livro podem ser variados em sua forma, estilo e temática, mas como não poderia deixar de ser, são o resultado da forma particular e sensível com que a autora observa o mundo. Seja ao narrar um encontro amoroso, ao inquirir sobre a origem e os significados de uma palavra, seja ao imaginar um encontro improvável entre duas figuras históricas, Jaffe mobiliza um repertório rico e original no qual as fronteiras entre ficção e realidade se apagam sutilmente. Literatura e linguagem, ficção e história compõem este livro da autora que Valter Hugo Mãe chamou de "um tesouro da língua e da literatura em português". Neste vídeo, Noemi Jaffe lê um trecho de Não está mais aqui quem falou. 

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Pretérito imperfeito, de B. Kucinski

Se em K. - Relato de uma busca, B. Kucinski partiu da história real do desaparecimento de sua irmã durante a ditadura para compor um romance trágico sobre a repressão, em Pretérito imperfeito, seu novo livro, ele parte da relação conflituosa com seu filho adotivo. A adoção de um bebê por um casal que não consegue ter filhos é o fato fundador do romance, contando a história de uma paternidade que começa intensa e amorosa e termina em destroços. A derrocada tem início na adolescência do menino, marcada pelo envolvimento com maconha, crack e anfetaminas, um processo descrito pelo narrador como uma busca frenética de um paraíso artificial. Entrelaçam-se nessa história de vida três situações limite: a adoção, a dependência química e o racismo. O pai narrador se pergunta: “Teria sido possível em algum momento barrar o curso dessa história? Ou estava tudo escrito no livro do destino?”. A abordagem é minuciosa e sutil, porém o estilo é seco e duro. O resultado é um texto pungente, que confirma o lugar de B. Kucinski como um dos escritores mais destacados da atualidade.

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A noite da espera, de Milton Hatoum

Nove anos após lançar Órfãos do Eldorado, em 2017 Milton Hatoum voltou para a ficção com o primeiro livro da trilogia O Lugar Mais Sombrio, A noite da espera, um romance de formação sobre um grupo de jovens na Brasília dos anos 1960 e 1970. Martim, um jovem paulista, muda-se para Brasília com o pai após a separação traumática deste e sua mãe. Na cidade recém-inaugurada, trava amizade com um variado grupo de adolescentes do qual fazem parte filhos de altos e médios funcionários da burocracia estatal, bem como moradores das cidades-satélites, espaço relegado aos verdadeiros pioneiros da capital federal, migrantes desfavorecidos. Às descobertas culturais e amorosas de Martim contrapõe-se a dor da separação da mãe, de quem passa longos períodos sem notícias. Na figura materna ausente concentra-se a face sombria de sua juventude, perpassada pela violência dos anos de chumbo. Neste que é sem dúvida um dos melhores retratos literários de Brasília, Hatoum transita com a habilidade que lhe é própria entre as dimensões pessoal e social do drama e faz de uma ruptura familiar o reverso de um país cindido por um golpe. Confira algumas leituras que Milton Hatoum fez do livro.

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Noite dentro da noite, de Joca Reiners Terron

Uma narrativa labiríntica e incomum: essas palavras definem muito bem o que é o romance mais recente de Joca Reiners Terron, que foi citado por jornais e sites como um dos melhores lançamentos de 2017. Durante uma brincadeira no colégio, um garoto bate a cabeça e entra em coma. Ele desperta sem saber ao certo quem é e, conforme suas memórias vão se dissolvendo, tem início o que vem a ser conhecido na família como O Ano do Grande Branco. Nos meses seguintes, o garoto vive a sensação intensa de que aquelas pessoas que cuidam dele e que o alimentam não são seus pais. Todavia, os barbitúricos receitados pelo médico confundem seu raciocínio e o garoto vai aos poucos perdendo as certezas que alguém de onze anos pode ter. É a partir daí que Joca Reiners Terron vai contar essa labiríntica história com uma galeria que inclui espiões, guerrilheiros, caçadores e pelo menos um monstro da natureza. Noite dentro da noite percorre a história recente do Brasil, inserindo nossa realidade no mesmo caleidoscópio que faz mover este romance extraordinário.

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As perguntas, de Antônio Xerxenesky

Para quem gosta de uma leitura mais misteriosa, As perguntas, de Antônio Xerxenesky, é nossa indicação. Alina enxerga sombras e vultos desde criança. Doutoranda em história das religiões, especializada em tradições ocultistas e aferrada à racionalidade que tudo ilumina, ela se acostumou a considerar as aparições como simples vestígios de sonhos interrompidos. Certo dia, um telefonema da delegacia desarruma sua rotina de tédio programado. A polícia suspeita de que uma seita vem causando uma onda de surtos psicóticos em São Paulo. A única pista disponível é um símbolo geométrico desenhado por uma das vítimas. Intrigada e ansiosa para fugir da rotina, Alina decide investigar por conta própria um mistério que a fará questionar os limites entre razão e religião, cultura e crença. Neste livro, Xerxenesky costura o tédio da vida cotidiana com o desconforto do horror em um livro repleto de referências ao universo dos filmes, da música e do ocultismo.

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Neve negra, de Santiago Nazarian

Neve negra é recomendado para quem quer se embrenhar ainda mais nas narrativas de terror - ou para quem quer aliviar a sensação de calor com uma história que se passa na noite mais fria do ano, e na cidade mais fria do Brasil. É nesta noite, e nesta cidade do interior de Santa Catarina, que um pai de família volta para casa. Pintor de sucesso, ele passa boa parte de seu tempo em feiras e exposições no exterior. E na sua cidade natal se depara com o inesperado. Enquanto a neve cai lá fora, sua família dorme. Mas quando seu filho de sete anos desperta é que começa um pesadelo que acabará com o aconchego do lar. Neste habilidoso misto de terror psicológico e drama familiar, o leitor se depara com paranoias e dúvidas ancestrais da paternidade. É também um raro registro da neve no Brasil, num romance no qual questões existenciais se mesclam com o humor negro de que só Nazarian é capaz.

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O fogo na floresta, de Marcelo Ferroni

O fogo na floresta é o terceiro romance de Marcelo Ferroni, e aqui ele acompanha a vida de uma mulher que pode ser considerada uma "Emma Bovary dos trópicos". A vida não deu a Heloísa as oportunidades que ela merecia, mas ela enfrenta bravamente as adversidades e, como boa brasileira, segue em frente. Apesar das agruras domésticas, das injustiças no trabalho, das desventuras da maternidade, das amigas invejosas, do marido sem graça, das prestações por pagar, da implicância da sogra, dos colegas incompetentes e do irmão desalmado, ela persevera na busca da felicidade a que tem direito. Ao combinar o melhor da tradição do romance realista com a ironia que a tarefa demanda em nossos tempos, Ferroni constrói uma das personagens mais instigantes da literatura nacional, com a qual é impossível não se identificar.

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O clube dos jardineiros de fumaça, de Carol Bensimon

Cruzando história e ficção, com uma linguagem original e ousada, a meio caminho entre Brasil e Estados Unidos, Carol Bensimon compõe em O clube dos jardineiros de fumaça um brilhante retrato da geração hippie e de seu legado. Em um cenário formado por coníferas milenares, estradas sinuosas e falésias, a região californiana do Triângulo da Esmeralda concentra a maior produção de maconha dos Estados Unidos. É lá que o jovem professor brasileiro Arthur busca recomeçar a vida, depois dos acontecimentos que o levaram a deixar Porto Alegre. Aos poucos, ele se insere na dinâmica local e passa a fazer parte de uma história que começa com a contracultura dos anos 1960 e se estende até o presente. À vida de Arthur e daqueles com quem estabelece vínculos — o atormentado Dusk, a solitária Sylvia, a indecisa Tamara — mistura-se a de personagens reais que participaram do embate que levou à descriminalização do uso da maconha, fazendo deste um poderoso romance panorâmico.

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Anjo noturno, de Sérgio Sant'Anna

Além de estar nas listas de melhores livros do ano de vários sites e jornais, o novo livro de Sérgio Sant'Anna, Anjo noturno, também venceu o Prêmio APCA na categoria Contos/Crônicas. Nas nove narrativas reunidas neste livro, um dos principais escritores brasileiros da atualidade explora num gênero híbrido — que abrange contos, memórias e novelas — temas a um só tempo díspares e intrincados, como morte e vida, infância e velhice, paixão carnal e amor fraternal. O conto “Talk show” narra a participação de um escritor em um programa de auditório, numa sucessão de situações embaraçosas e eletrizantes que se desenrolam tanto no palco quanto nos bastidores. Já em “Augusta”, o autor relata o encontro entre um professor universitário e uma produtora musical numa festa em Copacabana. A mesma atmosfera lasciva marca outras narrativas, como “Um conto límpido e obscuro”, em que o narrador recebe a visita inesperada de uma amiga artista plástica com quem não tem relações amorosas há cerca de dois anos. Nesse universo de tensão entre desejo e profunda solidão, a prosa de Sérgio Sant’Anna percorre com engenhosidade e maestria as memórias e os anseios do escritor.

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Mais sugestões:

Ficção Estrangeira

Poesia

Não Ficção

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