Na noite de ontem, 30 de novembro, aconteceu em São Paulo, no Auditório do Ibirapuera, a cerimônia de entrega do Prêmio Jabuti 2017. Os troféus foram entregues aos ganhadores de cada categoria da 59ª edição de um dos mais importantes prêmios da literatura brasileira. Também foram anunciados os ganhadores do Livro do Ano em Ficção e Não Ficção, e Machado, de Silviano Santiago, foi o grande vencedor. Em Não Ficção, o prêmio ficou com Alfabetização: A Questão dos Métodos, de Magda Soares, publicado pela Editora Contexto.

Mistura de romance e ensaio, Machado acompanha os últimos anos da vida de Machado de Assis, autor de Dom Casmurro. Viúvo e solitário, Machado de Assis sofre fortes dores e crises nervosas enquanto testemunha a modernização da antiga cidade do Rio de Janeiro, e encontra em Mário de Alencar, filho de José de Alencar, um precioso interlocutor. Silviano fez uma extensa pesquisa para compor o romance, consultando as cartas trocadas entre Machado e Mário, além de resgatar o cenário literário da época. Em crítica publicada na Folha de S. Paulo, João Cezar de Castro Rocha afirma que "o texto [de Silviano] produz um constante curto-circuito pelo atrito permanente entre imaginação de romancista e acuidade de crítico; consulta de fontes e interpretações ousadas; recuperação de fatos pouco valorizados e acasos objetivos; associações históricas e coincidências inventadas; respeito (relativo) à cronologia machadiana e subversão (completa) da temporalidade cultural".

Além de ficar com o primeiro lugar na categoria Romance no Jabuti, Machado também ganhou o segundo lugar do tradicional Prêmio Oceanos, antigo Portugal Telecom. "Talvez a maior originalidade do livro seja a questão da doença de Machado, que nunca foi tão esmiuçada", revela Silviano em uma entrevista para O Globo. "Sua escrita tem aquela construção que vai e volta, perde o rumo", diz sobre a leitura esmiuçada que fez de Memorial de Aires para compor o romance. Sobre a relação entre o autor de Memórias Póstumas de Brás Cubas e o filho de José de Alencar, Silviano diz que "Mário vê Machado como um mentor. É como se o romance de formação de Mário se misturasse com o romance de sobrevivência de Machado".

"Silviano comove o leitor ao atar com maestria as pontas de sua escrita. Machado é um livro definitivo", finaliza João Cezar de Castro Rocha em sua crítica.

Em 2017, onze títulos do Grupo Companhia das Letras ficaram entre os vencedores do Prêmio Jabuti nas categorias Romance, Histórias em Quadrinhos, Reportagem e Documentário, Tradução, Livro Brasileiro Publicado no Exterior, Meio Ambiente e Ciências Humanas.