
O último livro de Kent Haruf
Em Nossas noites, de Kent Haruf, Addie Moore e Louis Waters são vizinhos, septuagenários e vivem sozinhos em suas casas grandes e vazias. Addie propõe que os dois passem as noites juntos, para ter alguém com quem conversar antes de dormir. Louis estranha o convite de início, mas acaba topando a ideia, e não demora a surgir uma inesperada relação entre os dois — que não será tão fácil de ser mantida como eles acreditavam. Neste aclamado livro, Haruf retrata com ternura e delicadeza o envelhecimento, as segundas chances e a emoção de redescobrir os pequenos prazeres da vida — que pode surpreender e ganhar um novo sentido mesmo quando parece ser tarde demais.
Sobre o livro, o The Boston Globe afirma que “aquilo que parece acontecer tarde demais e as segundas chances sempre foram um tema para Haruf. Mas aqui, em um livro sobre o amor e as consequências do sofrimento, ele produziu sua expressão máxima disso.” Kent Haruf nasceu em 1943, em Pueblo, no Colorado. É autor de seis romances, entre eles The Tie That Binds (1984), que recebeu uma menção especial do PEN/ Hemingway Award, e Plainsong (1999), finalista do National Book Award. Em 1986 recebeu o prêmio Whiting Awards e, em 2006, o prêmio John Dos Passos. Haruf morreu em 2014, aos 71 anos, e seu último trabalho publicado foi o romance Nossas noites.
É justamente esta obra — que acaba de chegar às livrarias brasileiras — que ganhará uma adaptação pela Netflix em 2017. Estrelado por Jane Fonda (no papel de Addie Moore) e Robert Redford (como Louis Waters), o filme ainda não tem data de estreia definida.
Para conhecer mais sobre Nossas noites, leia a seguir um trecho do livro.
* * *
Bem, você pode deixar seu pijama e sua escova de dentes aqui de agora em diante, disse ela.
Iria economizar sacos de papel, disse ele.
Exatamente. Tem alguma coisa sobre a qual você gostaria de falar?, ela perguntou. Não precisa ser nada de urgente. Só para a gente começar a conversar.
O que eu mais tenho são perguntas, na verdade.
Eu também tenho algumas, disse ela. Mas quais são as suas?
Fiquei me perguntando por que você me escolheu. Nós não nos conhecemos muito bem nem nada.
Você acha que eu escolheria qualquer um? Que eu só quero alguém para me esquentar à noite, não importa quem seja?
Uma pessoa qualquer com quem conversar?
Não, não pensei isso. Mas não sei por que você me escolheu.
Você não gostou que eu tenha te escolhido?
Não. Não é isso. Só estou curioso. Intrigado.
Foi porque eu acho que você é um homem bom. Um homem gentil.
Espero que eu seja.
Eu acho que é. E sempre pensei em você como alguém de quem eu poderia gostar e com quem poderia conversar. O que você pensava de mim, se é que já pensou algum dia?
Eu pensava em você, disse ele.
De que forma?
Como uma mulher bonita. Uma pessoa de fibra. De caráter.
O que fazia você pensar assim?
A maneira como você vive, o modo como tocou sua vida depois que o Carl morreu. Foi uma época difícil pra você, é o que estou querendo dizer. Eu sei como foi para mim depois que minha mulher morreu, e eu via que você estava lidando com isso melhor do que eu. Achei isso admirável.
Você nunca me procurou nem fez questão de me dizer nada, disse ela.
Não quis parecer intrometido.
Você não teria parecido. Eu estava me sentindo muito sozinha.
Imaginei que sim. Mas não fiz nada assim mesmo.
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