O xodó do sanfoneiro: homenagem a Dominguinhos

24/07/2013

Na noite de 23 de julho de 2013, perdemos Dominguinhos. Apadrinhado pelo Rei do Baião Luiz Gonzaga, o exímio sanfoneiro José Domingos de Morais foi um dos grandes nomes da música popular brasileira. Venceu um Grammy, um Prêmio Shell de Música e ganhou o mundo com sua obra, influenciada por estilos regionais como baião, forró e xote, mas também pelo jazz.

A Zahar homenageia o grande Dominguinhos relembrando o início de sua história, detalhada por Carlos Marcelo e Rosualdo Rodrigues em O fole roncou! Leia um trecho da emocionante saga do pernambucano:

– Olha, Neném. Eu fundei um selo, uma gravadorazinha. Você não quer fazer um disco de baião?

Ah, Pedro, eu vou pensar. A princípio, eu tô muito enredado aqui na rádio, tocando em vários lugares, tocando em boate…

Dominguinhos estava participando de programa da Rádio Nacional, emissora onde integrava o conjunto regional, ao lado de Chinoca, Edinho e Gaúcho do Acordeon, quando chegou Pedro Sertanejo, que há tempos ele não via. Conhecido por quase tudo quanto é músico no Rio de Janeiro, especialmente os nordestinos, o sanfoneiro e afinador andava sumido. Morava em São Paulo, explicou ao amigo, antes de fazer o convite.

A vida de Neném do Acordeon, como era chamado José Domingos de Morais, havia melhorado muito desde que chegara ao Rio de Janeiro, havia dez anos. Mas ele continuava se virando como podia, principalmente porque, casado aos dezesseis anos e pai aos dezessete, já tinha dois filhos para criar e “não podia ficar inventando”. Por conta do casamento com Janete, tinha até acabado com o Trio Nordestino, que formara com Zito Borborema e Miudinho, para evitar as frequentes viagens que o grupo fazia.

Neném tinha saído de Garanhuns, em Pernambuco, em companhia do pai, Francisco, o Chicão, e do irmão Valdomiro, para se juntar a Morais, o primogênito, que havia chegado um ano antes ao Rio de Janeiro. Na esperança de viver da única coisa que sabiam fazer, música, viajaram durante onze dias em cima de um pau de arara, deixando no interior pernambucano dona Mariinha e os outros sete filhos – que se juntariam a eles três anos depois.

Antes disso, a família viveu durante muito tempo do que Chicão ganhava como sanfoneiro, animando festas em Garanhuns e arredores, mas havia tempo isso não bastava. Mesmo sendo o melhor da região, o músico ficava às vezes cinco meses sem arranjar um trabalho. E aí faltava até a farinha seca com cebola e sal, que era só o que comiam. Foi em um desses momentos de aperreio que a mãe resolveu tomar uma atitude. Botou dentro de um saco a sanfona que os meninos costumavam tocar e juntou os três. O marido ficou curioso:

Onde é que você vai, Mariinha?

Eu vou ali.

Tomou o rumo da feira e, chegando lá, tirou a sanfona, entregou a Morais.

Agora pode tocar.

O menino começou, acompanhado pelos irmãos. Valdo no melê; Neném, não mais do que seis anos, no pandeiro. Mostraram uns xotes, xaxados e baiões que haviam aprendido com o pai, em casa ou nas festas em que o acompanhavam. Logo o chapéu colocado no chão por dona Mariinha se encheu de moedas e notas.

Depois disso, virou rotina a mãe levar os três meninos para tocar nas portas dos hotéis e nas feiras de Garanhuns, Caruaru e municípios vizinhos.

Este foi o início modesto e despretensioso de uma carreira brilhante. O resto da história você confere em O fole roncou! Uma história do forró

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