Quando a literatura encontra o esporte

23/02/2018

Quem disse que não há lugar para a literatura no esporte? Grandes clássicos literários já inspiraram peças, filmes e músicas, estendendo sua importância na história cultural para além de suas páginas. Mas, na madrugada de hoje, duas obras de Miguel de Cervantes e Liev Tolstói protagonizaram duas importantes conquistas na patinação.

As russas Alina Zagitova e Evgenia Medvedeva conquistaram as medalhas de ouro e prata, respectivamente, na final da patinação artística nas Olimpíadas de Inverno de Pyeongchang. E a trilha sonora escolhida para suas apresentações envolveu os clássicos Dom Quixote e Anna Kariênina, reinterpretados pela música e pelas atletas. 

Medalha de prata na competição, Medvedeva - atual bicampeã mundial na patinação - escolheu para sua apresentação "Anna Kariênina", por Dario Marianelli, trilha sonora da adaptação cinematográfica do clássico de Liev Tolstói lançada em 2012. O romance ganhou uma nova edição em 2017 pela Companhia das Letras, com a consagrada tradução de Rubens Figueiredo e posfácio da jornalista Janet Malcolm. 

Na trama, acompanhamos a trágica história da aristocrata Anna Kariênina em paralelo com a vida do rico proprietário de terras Liévin. Tolstói apresenta neste uma galeria de personagens excessivamente humanos: não há heróis, tampouco fracassados, e sim pessoas complexas, ambíguas, que não se restringem a fórmulas prontas. 

Apresentação de Evgenia Medvedeva no campeonato europeu. 

Já a medalhista de ouro Zagitova se apresentou ao som de "Dom Quixote", composta por Ludwig Minkus em 1869. A música, claro, é inspirada no clássico de Miguel de Cervantes, considerado o fundador do romance moderno. 

Dom Quixote foi publicado originalmente em 1605 e teve sua segunda parte lançada 1615. Ao invés de ser mais um romance de cavalaria, gênero muito cultuado na Espanha do início do século XVII, Cervantes insere na narrativa elementos inéditos para contar a história do fidalgo que perde o juízo e parte pelo país para lutar em nome da justiça. O humor, as digressões e reflexões de toda ordem, a oralidade nas falas e a metalinguagem de Cervantes tiraram a literatura da escuridão da Idade Média e redefiniu a maneira de contar histórias. 

Alina Zagitova também se apresentou com a música na final do Grand Prix de patinação de 2017. 

Quer saber mais sobre estes romances? 

Nosso último Clube Rádio Companhia discutiu a leitura de Anna Kariênina, e você pode ouvir o podcast aqui no blog e também no iTunes, Spotify, Deezer e SoundCloud. 

E nos 400 anos da morte de Cervantes, o escritor Juan Pablo Villalobos escreveu sobre sua relação com a leitura de Dom Quixote e, claro, sua importância  para a literatura. 

Compartilhe:

Veja também

Voltar ao blog