São Paulo: 464

24/01/2018

No dia 25 de janeiro comemoramos os 464 anos de São Paulo. A maior metrópole do Brasil abriga pouco mais de 12 milhões de habitantes, uma população diversa que mistura brasileiros de todas as regiões e estrangeiros acolhidos pela cidade que não cabe no horizonte. A cidade vertiginosa e trepidante nasceu distante, fora do alcance dos navios portugueses, escondida pela serra do Mar — uma barreira que foi obstáculo e também desafio. Quando os primeiros sinais de prosperidade começaram a aparecer, por obra da riqueza trazida pelo café, São Paulo tinha pouco mais de 30 mil habitantes. Em menos de vinte anos já tinha dobrado de tamanho, e entrou no século XX como uma explosão, um aglomerado de gente vinda de diferentes partes do mundo.

São Paulo é o objeto das biografias A capital da solidão e A capital da vertigem, do jornalista Roberto Pompeu Toledo. Foram anos de intensa pesquisa para reconstituir a vida da cidade, desde sua fundação até se firmar como metrópole, em 1900. Para celebrar esta data tão especial, separamos algumas imagens dos volumes da coleção e trechos dos livros. 

Largo da Sé em 1910 | Foto de Aurélio Becherini | Acervo Fotográfico do Museu da Cidade de São Paulo

“Tudo é 'trânsito' em São Paulo. Não é uma cidade de ficar, é de transitar. Muito menos é de transitar a pé. É de transitar sobre rodas, no carro, no ônibus ou no metrô. Não é à toa que a conversa favorita, entre os paulistanos, é sobre trânsito. Em Londres fala-se do tempo, no Rio de Janeiro da praia. Em São Paulo fala-se do trânsito.”

Avenida Paulista sentido Paraíso-Consolação em 1902. Ao fundo, o pico do Jaraguá e, à direita, a mansão dos Matarazzo | Foto de Guilherme Gaensly | Acervo Fotográfico do Museu da Cidade de São Paulo

“Modernidade, entre tantas coisas, é barulho. O reinado do silêncio, ao longo dos primeiros séculos, foi quase absoluto em São Paulo. Seu maior desafio eram os sinos das igrejas, que, além de marcar as horas e chamar para as missas, anunciavam nascimentos e mortes, festas, chegadas, partidas, ameaças de ataque e incêndios.”

Comemoração do IV Centenário no centro da cidade | Fotógrafo não identificado | Acervo Iconographia

“É um povo diverso e desconexo, avançando ou retirando-se de alguma coisa. Somos todos. E qualquer um.”

Para continuar a jornada histórica por São Paulo, conheça também outros títulos:

1. Saudades de São Paulo, de Claude Lévi-Strauss (tradução de Paulo Neves)

Uma cidade em que o gado convivia com carros e bondes nas ruas; em que construções moderníssimas despontavam no topo de colinas ainda rústicas; em que lençóis caseiros, pendurados nos varais, formavam o primeiro plano para o imponente prédio Martinelli. Essa era a paisagem que Claude Lévi-Strauss, então um jovem professor e fotógrafo nas horas vagas, encontrou e registrou fascinado entre 1935 e 1937, quando veio trabalhar na Universidade de São Paulo. O mais célebre antropólogo da França fazia parte da “missão francesa”, que incluía também o historiador Fernand Braudel, o geógrafo Pierre Monbeig e o filósofo Jean Maug. Ciente de que uma cidade é "como um texto que, para compreender, é preciso saber ler e analisar", o antropólogo escreveu em meados da década de 1990 um depoimento memorável em que revisita essas imagens a partir do diálogo estabelecido com o arquiteto e pesquisador Ricardo Mendes, que na época trabalhava na Divisão de Pesquisas do Centro Cultural São Paulo. Construindo para as novas gerações o mapa de uma belíssima viagem, no espaço e no tempo, esta edição reúne 53 fotos da capital de São Paulo e da Baixada Santista na década de 1930. 

2. Monções e capítulos de expansão paulista, de Sérgio Buarque de Holanda

Monções, volume publicado originalmente em 1945, trata das expedições portuguesas ao interior da Colônia por rios do Sudeste e do Centro-Oeste. Aqui, com grande talento narrativo e habilidade ímpar de compreensão histórica, o autor reconstitui o processo de adaptação dos portugueses ao território americano de forma original, a partir de descrições palpáveis da áspera empreitada colonial. Em sua quarta edição, o livro é publicado ao lado de coletânea de organização inédita, Capítulos de expansão paulista – cujo título (inspirado em Capistrano de Abreu) dá continuidade à série dos escritos inacabados do historiador paulista, tais como Capítulos de literatura colonial e Capítulos de história do Império.

3. As meninas, de Lygia Fagundes Telles

Integrante da Academia Brasileira de Letras desde 1985, Lygia Fagundes Telles é um dos principais nomes da prosa contemporânea brasileira. O romance As meninas, lançado originalmente em 1973, recebeu elogios de Carlos Drummond de Andrade, que descreveu a obra como feita “de matéria viva e lancinante” e em 1974 foi o ganhador do Prêmio Jabuti na categoria ficção. Obra de grande coragem na época de seu lançamento por descrever uma sessão de tortura numa época em que o assunto era rigorosamente proibido, o romance acabou por se tornar, ao longo do tempo, um dos livros mais aplaudidos pela crítica e também um dos mais populares entre os leitores da autora. Sobre o livro, a própria autora disse certa vez ao jornal O Globo: "Quis dar meu depoimento sobre a ditadura militar. Cada uma das meninas era testemunha da situação a partir de um ponto de vista: a drogada, a guerrilheira e a burguesinha”. 

4. Retrato em branco e preto, de Lilia Moritz Schwarcz

Lançado em 1987, Retrato em branco e negro é um estudo minucioso de como o negro era visto pela elite branca da cidade de São Paulo entre 1870 e 1890, a partir da análise do imaginário paulistano nos jornais do fim do século XIX. A metamorfose da imagem do negro é seguida com olho arguto que deixa a nu os preconceitos da época e sua gênese. Em seu texto de introdução, Lilia Moritz Schwarcz destaca a importância da imprensa paulista de finais do século como fórum de debates centrais da época: “Através desses fragmentos de textos da imprensa, desses ‘pedaços de significação’ — que incluem desde as seções tidas como as ‘mais nobres’ dos jornais (como notícias e editoriais) até as de aparente valor secundário (como os obituários, ‘ocorrências policiais’ e anúncios) —, aqui se busca reconstituir as várias visões com que se falou sobre a condição negra”.

5. Pagu: vida e obra, de Augusto de Campos

Em 1982, quando Pagu: vida-obra foi lançado pela editora Brasiliense, quase nada se sabia sobre essa importante personagem do modernismo no Brasil. Além das fotografias que documentavam sua estonteante beleza e da aura de escândalo proporcionada pela participação na ruidosa “segunda dentição” do movimento antropofágico (amplificada por seu tumultuado relacionamento com Oswald de Andrade), pouca coisa restava de Pagu. Seus artigos na imprensa estavam dispersos em jornais extintos; seus livros, ainda inéditos ou já esgotados; a história de sua militância política, apagada. No entanto, o poeta e estudioso da história do modernismo Augusto de Campos surpreendeu os meios literários ao realizar nesta antologia sui generis o mais completo e ambicioso resgate da produção artística, literária e jornalística da autora de Parque industrial. O retrato multifacetado da figura que emerge deste roteiro biobibliográfico permite incluí-la em pé de igualdade numa seleta galeria de mulheres do alto modernismo mundial.

6. O sol de põe em São Paulo, de Bernardo Carvalho

No Japão da Segunda Guerra, um triângulo amoroso envolve Michiyo, Jokichi e Masukichi – uma moça de boa família, um filho de industrial e um ator de kyogen, o teatro cômico japonês. À primeira vista, isso é tudo que Setsuko, a dona do restaurante japonês, tem a contar ao narrador de O sol se põe em São Paulo, romance de Bernardo Carvalho lançado em 2007. Mas logo a trama se complica e se desdobra em outras mais, passadas e presentes, que desnorteiam o narrador involuntário, agora compelido a um verdadeiro trabalho de detetive para completar a história em que se viu enredado. Pois o relato de Setsuko aponta para além do desejo, da humilhação e do ressentimento amorosos, e se vincula aos momentos mais terríveis da história contemporânea – tanto do Japão como do Brasil. Romance sem fronteiras, que une a Osaka de outrora à São Paulo de hoje, e esta à Tóquio do século XXI, o livro entrelaça tempos e espaços que o leitor julgaria essencialmente separados – e nos quais a prosa de ficção brasileira não costuma se arriscar. 

7. A cidade dorme, de Luiz Ruffato

Novo livro de Luiz Ruffato, que será lançado em fevereiro, A cidade dorme reúne vinte narrativas escritas nos últimos quinze anos pelo autor. Juntas, compõem um painel poderoso sobre a passagem do tempo e as dinâmicas da família e da memória. A partir de um ponto de vista pouco presente na literatura brasileira, o do trabalhador urbano, Ruffato tece uma reflexão contundente sobre o Brasil dos grandes centros e periferias. O percurso é claro: da infância à idade adulta, da margem ao miolo nervoso das metrópoles e da linguagem. A meninice nos anos 1960; histórias sobre futebol e a ditadura; questões ligadas à violência urbana; o universo das drogas, tudo vai se mesclando neste livro, que confirma o lugar único de Luiz Ruffato na literatura contemporânea brasileira.

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