"Selma", filme sobre Martin Luther King, ganha Globo de Ouro de Melhor Canção
1965, Selma, Alabama. A Lei dos Direitos Civis havia sido aprovada um ano antes nos Estados Unidos, mas a resistência segregacionista no Sul do país ainda era grande. A campanha pelo direito de voto dos negros – que já havia sido promulgado quase cem anos antes, em 1875 – resulta em três históricas marchas da cidade de Selma até Montgomery, capital do estado do Alabama. Lideradas pelo pastor protestante Martin Luther King, as marchas completam 50 anos em março e são o enredo do filme Selma, dirigido por Ava DuVernay, que acaba de ganhar o Globo de Ouro de Melhor canção original, além de ter sido indicado a mais três categorias (ator, filme de drama e diretor). O período também foi relatado pelo próprio King em diversas cartas e entrevistas e o material reunido no capítulo intitulado "Selma" no livro A autobiografia de Martin Luther King– lançado pela Zahar –, cujos trechos serão destacados a seguir.
Marchando de Selma para Montgomery em 1965. (AP/Wide World)
O direito de voto era a questão, substituindo os espaços públicos como grande preocupação de um povo faminto por um lugar ao sol e por uma voz sobre seu destino.
Em Selma, milhares de negros testemunhavam corajosamente as forças do mal que obstruíam nosso caminho em direção às decisivas urnas. Eles estavam desnudando para que toda a nação visse, para que o mundo conhecesse, a natureza da resistência segregacionista. (Trecho de A autobiografia de Martin Luther King)
1º de fevereiro de 1965 - King é preso com mais duzentas pessoas após a marcha pelo direito de voto em Selma, Alabama
26 de fevereiro - Jimmie Lee Jackson morre depois de ser baleado pela polícia durante manifestação em Marion, Alabama
7 de março - Manifestantes pelo direito de voto são agredidos na ponte Edmund Pettus
11 de março - O reverendo James Reeb morre após ser espancado por brancos racistas
25 de março - A marcha de Selma a Montgomery termina com um discurso de King; horas depois, membros da Klan matam Viola Gregg Liuzzo quando ela transportava manifestantes de volta a Selma
King é agredido quando tentava registrar-se no Hotel Albert, em Selma. (AP/Wide World)
Quando o rei da Noruega participou da cerimônia em que recebi o Prêmio Nobel da Paz, certamente não imaginava que em menos de dois meses eu estaria na cadeia. Eles tinham pouco conhecimento dos assuntos inacabados no Sul. Ao prender centenas de negros, a cidade de Selma havia revelado à nação e ao mundo a persistente monstruosidade da segregação.
Quando foi aprovada a Lei dos Direitos Civis de 1964, muitos americanos decentes se encheram de satisfação por imaginarem que os dias de luta árdua haviam terminado. Mas, além da questão do voto, o simples fato de ser negro em Selma não era fácil. Quando os repórteres perguntaram ao xerife Clark se uma acusada era casada, ele respondeu:
– Ela é uma crioula e não tem direito ao título de senhora ou senhorita à frente do nome.
Assim eram os Estados Unidos em 1965. Estávamos presos simplesmente por não podermos tolerar essas condições para nós mesmos e para nossa nação. Havia a necessidade clara e urgente de uma nova e aperfeiçoada lei federal, assim como de medidas mais amplas para aplicá-la, a fim de que finalmente se eliminassem todos os obstáculos ao direito de voto.
"Três meses depois, o mesmo presidente que tinha me dito em seu gabinete ser impossível aprovar um projeto de lei de direitos civis estava na televisão defendendo a aprovação desse projeto no Congresso. O que aconteceu dois meses depois." Presidente Lyndon Johnson oferecendo a caneta com que assinou a Lei dos Direitos de Voto de 1965.
Quando o presidente Johnson declarou que Selma, Alabama, é acompanhada na história americana por Lexington, Concord e Appomatox, ele estava homenageando não apenas nossos negros mobilizados, mas a grande maioria de nossa nação, negra e branca. A vitória em Selma agora está sendo escrita no Congresso. Dentro de pouco tempo mais de um milhão de negros serão novos eleitores – e, psicologicamente, novas pessoas. Selma é um momento fulgurante na consciência humana. Se o pior na vida americana estava à espreita nas ruas escuras de Selma, o melhor dos instintos democráticos americanos se ergueu por todo o país para sobrepujá-lo.
A rota das marchas foi imortalizada como a Trilha de Selma a Montgomery do Direito ao Voto e hoje é uma Trilha Histórica Nacional dos Estados Unidos.
Leia o capítulo 26 de "A autobiografia de Martin Luther King" intitulado "Selma".
A autobiografia de Martin Luther King
480 páginas
Preço livro impresso: R$ 59,90 Preço livro digital: R$ 29,90
Tradutor: Carlos Alberto Medeiros
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