Sherlock deveria ler "O livro de Moriarty"

26/01/2017

Por Ana Paula Laux

Qualquer um julgaria minimamente razoável. Para desafiar um ícone como Sherlock Holmes, o detetive mais famoso do mundo, queremos, ansiamos, exigimos uma figura à altura de seu brilho e intelecto. Alguém que aja nas sombras com a eficiência fleumática de um mordomo inglês, um erudito craque na arte das transgressões, uma máquina discretamente terrível a favor do mal. Alguém como Ele, o Napoleão do Crime. Moriarty.

Criado para encarnar o aniquilador de Holmes em O problema final, o professor Moriarty participou de sete histórias do Cânone, incluindo o romance O vale do medo. Definido por Sherlock como aquele “responsável por metade das ações malignas em Londres”, sua breve participação na ficção foi tão marcante que fez dele um antagonista inesquecível não só nos livros, mas também nas adaptações para o cinema e séries de TV. Em O livro de Moriarty, lançamento de janeiro do selo Penguin–Companhia, doylianos, sherlockianos e fãs de histórias de suspense terão mais um título para acrescentar à sua coleção pessoal, já que ele traz todas as participações de Moriarty num só livro.

O que pouca gente sabe é que Conan Doyle usou alguém de carne e osso para moldar a persona de Moriarty. No final do século 19, um sujeito conhecido como Adam Worth ganhou muita publicidade na Inglaterra por executar roubos e assaltos brilhantes sem que a polícia conseguisse associá-lo aos crimes. Ladrão de trens, diamantes, bancos e obras de arte, Worth mantinha ares de um respeitável cavalheiro e era admirado até pelos detetives da famosa Agência Pinkerton, nos Estados Unidos, até ser enquadrado pela polícia. É dele também o apelido de “Napoleão do crime”, dado por um oficial da Scotland Yard que se referia a Worth como alguém quase incapturável, um bandido ousado da era vitoriana que agia sob um código de honra particular, condenando a violência ao praticar seus roubos pela Europa. "Isso me cheira a algo diabólico", diria Sherlock a Watson.

O que seria de Holmes sem um inimigo para refletir seu lado mais sombrio? O matemático Moriarty, esse homem carismático e calculista que pertence às altas esferas do submundo do crime, poderia se contentar com o sucesso literário que conquistou, mas a tendência para o mal o transformou em muito mais do que um mero professor de província. "Este ser alto, magro, de olhos encovados e movimento reptiliano", como o próprio Sherlock o define, nutre uma profunda admiração pela inteligência de seu oponente.

Onde um não resiste às armadilhas da vaidade, outro se esconde na sombra da discrição acadêmica. Enquanto um age quase que de forma solitária, outro é o regente de um batalhão de operários que disseminam sua teia de crimes pela Europa. Difícil é imaginar como o caminho dos dois demorou tanto para se cruzar, mas é bom saber que agora eles podem ser facilmente encontrados num volume só. Afinal de contas, quem resiste a um bom duelo entre o bem e o mal?

O livro de Moriarty chega às livrarias no dia 30 de janeiro e está em pré-venda.

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Ana Paula Laux é jornalista e escritora. Produz conteúdos e faz curadoria de informações para o Clube do Crime, da Companhia das Letras. É editora do site www.literaturapolicial.com, e sob o pseudônimo Chris Laux lançou com Rogério Christofoletti o e-book Os Maiores Detetives do Mundo.

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