Três leituras que mostram lados desconhecidos de Fidel Castro

28/11/2016

Foto: Acervo Folha

No último final de semana, o mundo acordou com a notícia de que o líder cubano Fidel Castro morreu aos 90 anos de idade. Desde 2006 Fidel já não era visto no poder por conta de seus problemas com saúde, e a transição do comando de Cuba para o seu irmão, Raul Castro, aconteceu oficialmente em 2008. Tratado como heroi e como vilão, a vida de Fidel Castro sempre foi repleta de histórias, verdadeiras ou não. Para conhecer mais sobre um dos principais nomes da política mundial do século XX, indicamos três leituras que abordam lados não tão conhecidos de Fidel Castro. 

A vida secreta de Fidel

Poucos estiveram tão perto de Fidel Castro quanto Juan Reinaldo Sánchez, seu guarda-costas pessoal. Ao longo de dezessete anos, ele foi responsável pela sua segurança e também testemunha de seus relacionamentos, de sua vida em família, de suas horas de lazer, de suas estratégias políticas, entre outras tantas coisas. Até as revelações de Sánchez em A vida secreta de Fidel Castro, lançado em 2014 pela Editora Paralela, poucos sabiam que Fidel tinha uma ilha deserta paradisíaca para onde levava a família e poucos convidados - num belo iate ou em seu helicóptero - ou então quais eram seus hábitos alimentares, baseados principalmente em alimentos orgânicos. Escrito em parceria com Axel Gylden, repórter da revista francesa L’Express, Sánchez revela segredos de Estado e as múltiplas faces do ditador cubano, a partir de fatos que presenciou e que expõe sem julgamentos. Esse testemunho nos leva a reconsiderar tudo que sempre foi dito sobre Cuba e sobre Fidel Castro.

Fidel e a religião

Fidel e a religião, lançado neste ano pela Fontanar, é uma edição revista e atualizada do livro de Frei Betto lançado na década de 1980. Fidel conversou com Frei Betto sobre religião durante 23 horas. Foi a primeira vez que um Chefe de Estado de um país socialista concedeu uma entrevista exclusiva a respeito desse tema sempre atual. Nas últimas décadas, a questão religiosa ganhou especial interesse, principalmente na América Latina, onde ditaduras militares assassinaram inúmeros religiosos que se colocaram ao lado da causa dos pobres. As milhares de Comunidades Eclesiais de Base que congregam camponeses e operários e a força da Teologia da Libertação são alguns dos fatores que fazem o tema da religião transcender os limites das próprias Igrejas e ganhar uma expressão política só comparável aos primeiros séculos do Cristianismo. Um livro clássico sobre o icônico líder cubano e sua visão religiosa. 

O homem que inventou Fidel

O homem que inventou Fidel não é um livro sobre Fidel, mas sim sobre Herbert Matthews. Mas o que este livro de Anthony DePalma traz de curioso sobre a vida de Fidel Castro é a própria abordagem que Matthews, jornalista do The New York Times, deu ao revolucionário. No começo de 1957, Cuba estava sob rígida censura e a ditadura de Fulgencio Batista afirmava que Fidel morrera, liderando os 82 revolucionários que participaram da desastrada invasão do leste da ilha. Coube a Herbert Matthews, veterano e respeitado correspondente de muitas guerras, romper a censura e, com uma entrevista bombástica, revelar aos públicos norte-americano e cubano que Fidel estava vivo e organizava uma guerrilha na Sierra Maestra. Mais do que isso, Matthews escreveu que Fidel era "um homem de ideais, de coragem e de notáveis qualidades de liderança", e concluiu que seu movimento era "radical, democrático e, portanto, anticomunista". Difícil imaginar Fidel como um anticomunista nos dias de hoje, mas foi o que aconteceu antes da revolução cubana. Os artigos publicados no Times conquistaram o apoio da opinião pública americana para Fidel, o que teria pressionado o governo de Dwight Eisenhower a suspender a ajuda militar a Batista e, em última análise, causado sua queda. E quando Fidel se revelou cada vez mais esquerdista e, finalmente, marxista-leninista, Matthews, mesmo acusado de ter "inventado" Fidel, nunca deixou de julgar equivocada a política externa americana em relação a Cuba, como também continuou obstinadamente afirmando que o líder cubano não era comunista antes de chegar ao poder. E assim arruinou sua reputação de 45 anos de jornalismo, perdeu a credibilidade dentro do próprio Times, tornou-se um bode expiatório e foi taxado de inocente útil e até de traidor da pátria. 

 

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